data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Pedro Piegas (Diário)
Se o primeiro dia do julgamento do maior caso do judiciário gaúcho foi marcado pela definição do Conselho de Sentença - com seis homens e apenas uma mulher - e pela forte carga emocional na narrativa da duas depoentes, Kátia Giane Pacheco Teixeira e Kelen Giovana Leite Ferreira, no segundo dia, detalhes da estrutura do prédio da boate que podem ter culminado na tragédia ganharam destaque. O júri será retomado às 9h15min desta sexta-feira.
Performático e dono de bordões, Jean Severo é advogado de Luciano Bonilha
O assunto apareceu tanto nos relatos quanto nas perguntas e colocações do Ministério Público (MP) e dos advogados de defesa dos réus. Até as 19h30min, apenas três testemunhas haviam prestado depoimentos. Pela manhã até a metade da tarde desta quinta-feira, foram ouvidos Emanuel de Almeida Pastl, 27 anos, e Jéssica Montardo Rosado, 33 anos, que acompanhavam os irmãos na boate Kiss. Ele estava pela primeira vez no local, comemorando o aniversário com o irmão gêmeo. Ao contrário de Emanuel, Jéssica acabou perdendo o irmão, Vinícius, que morreu em decorrência dos efeitos da fumaça tóxica. Antes disso, ele ajudou a salvar outras pessoas.
Jéssica chorou em vários momentos e chegou a passar mal e ser atendida. Emanuel respondeu a maioria das perguntas de forma breve e com objetividade.
- Estou como testemunha e não como assistente de perito - pontuou o jovem.
Por volta das 15h30min, foi a vez do engenheiro Miguel Ângelo Teixeira Pedroso, 72 anos, ser ouvido por cerca de cinco horas. Ele elaborou o projeto da boate em 2011 e disse ter alertado o ex-sócio da casa noturna, Elissandro Spohr, de que a espuma não era um material eficiente para o isolamento acústico.
Das cadeiras ocupadas por familiares e sobreviventes, os ânimos estavam contidos. Um dos momentos que chamou a atenção foi a chegada da filha do réu Marcelo de Jesus no plenário, que cumprimentou o outro réu, Luciano Bonilha.
FOTOS: em imagens, como foi o segundo dia de júri da Kiss
A última oitiva de quinta-feira foi a do sobrevivente Lucas Cauduro Peranzoni, 40 anos. Ele iria tocar como DJ na festa em que o incêndio ocorreu. O depoimento seguiu a tônica de emoção dos outros sobreviventes. Entretanto, quando era questionado sobre o trabalho como DJ, Lucas era direto e objetivo. Ele, que hoje não atua mais na profissão, não conseguiu responder sobre sequelas emocionais causadas pela tragédia, disse ter perdido amigos e explicou que saiu da Kiss porque "conhecia a boate".
INTERFERÊNCIAS
Outro aspecto que chamou a atenção no segundo dia de júri foram as sucessivas interferências dos advogados e do Ministério Público nos depoimentos, bem como as manifestações pontuais do juiz Orlando Faccini Neto, que, por vezes, em tom espirituoso, citou o trecho de poema de Camões recitado e trocadilhos como "eu também estou curioso pela sua pergunta".
Jader Marques, advogado de Elissandro "pediu respeito", ao advogado de acusação Pedro Barcelos. A promotora Lúcia Callegari interferiu criticando o "dedo em riste de Jader". O magistrado, então, pediu bom senso: "estamos fazendo um júri em 2021". Diante do tangenciamento dos assuntos ou condolências exageradas, Orlando interferiu mais de uma vez pedindo rapidez e coerência: " Vamos acelerar e não criar desvios desnecessários".